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"Cirurgia não é milagre; pré e pós-operatório são necessários"

Dr. Marco Aurélio alerta: paciente deve ser acompanhado por equipe multidisciplinar durante todo o processo

A obesidade teve um aumento assustador no Brasil nos últimos anos, segundo os especialistas. Dados apresentados pela Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) neste ano apontam que quase 20% da população brasileira sofre com a obesidade.

Entre os jovens, a doença aumentou 110% entre 2007 e 2017. Esse índice foi quase o dobro da média nas demais faixas etárias (60%). O crescimento foi menor nas faixas de 45 a 54 anos (45%), 55 a 64 anos (26%) e acima de 65 anos (26%).

Na avaliação do cirurgião Marco Aurélio Espir da Fonseca, diretor técnico no Instituto de Obesidade e Cirurgia (IOCI), o estilo de vida é o principal fator que contribui para o aumento de peso da população.

As pessoas estão gastando cada vez menos energia e consumindo cada vez mais alimentos de alto valor calórico e de baixo valor nutricional. Enquanto essa realidade não mudar, a gente acredita que o problema não terá controle”, disse.


Uma das saídas mais procuradas, atualmente, por quem sofre de obesidade é a cirurgia bariátrica. No entanto, não se trata de uma medida simples, que envolve apenas os cuidados com a parte física. Grande parte do sucesso do resultado depende de aspectos psicológicos, conforme alertou o especialista.

Marco Aurélio destacou a importância do pré e pós-operatório do paciente, que deve ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar.

Conforme o médico, tudo começa com a preparação do paciente para a cirurgia.

“A condição de saúde não é só física, mas também emocional. Precisamos levar em consideração o momento em que uma equipe se dispõe a tratar esse paciente. Ele tem que ser tratado na sua totalidade e é isso que a gente busca na clínica”, explicou.

De acordo com o Marco Aurélio, antes de ser submetido à cirurgia bariátrica, é preciso que o paciente seja avaliado cuidadosamente. Esse exame é capaz de diagnosticar, por exemplo, se ele sofre de transtornos alimentares, alcóolicos, depressão ou ansiedade, entre outros.

Além disso, o pré-operatório também busca incentivar o emagrecimento antes da cirurgia, iniciando o processo de mudanças comportamentais, bem como esclarecer sobre todos os processos e riscos da bariátrica.

Nenhuma cirurgia funciona como um milagre. O paciente tem que entender que a cirurgia não é o tratamento em si, mas parte de um tratamento mais complexo e duradouro. A cirurgia é uma ferramenta que a pessoa precisa aprender a utilizar para atingir os seus objetivos”, apontou o médico.

Já o pós-operatório, conforme o médico, é o que demanda mais atenção. É o momento em que o paciente está mais fragilizado, tanto física quanto emocionalmente - razão pela qual o acompanhamento é necessário.

“O acompanhamento multidisciplinar é para que essa pessoa vá aprendendo a conviver com a cirurgia, vá aprendendo a mudar os seus hábitos, aprendendo a aceitar sua nova condição corporal”, explicou.

Conforme o especialista, o paciente também pode apresentar desconforto com a própria imagem, causando insegurança.

“Tem que ter cuidado com problemas de identidade. A pessoa que sempre se viu obesa, de repente começa a se ver magra. Tudo isso precisa ser trabalhado”, disse.

Marco Aurélio faz alerta: "As pessoas estão gastando cada vez menos energia e consumindo cada vez mais alimentos de alto valor calórico"

Mudança de vida

Segundo o médico, é essencial que o paciente queira mudar o estilo de vida, pois a bariátrica será fracassada se a pessoa seguir adotando comportamentos excessivos, como ocorria antes da cirurgia.

“O ganho de peso após a cirurgia, normalmente, está relacionado a erros alimentares. É aquela pessoa que, mesmo em pequenas quantidades, ingere grandes quantidades de caloria, que são os comedores de doce, os bebedores de refrigerante, o consumo excessivo de álcool”, explicou Marco Aurelio.

Ele enfatizou que o paciente pode comer de tudo, não sendo preciso levar uma vida cheia de restrições.

No entanto, conforme o especialista, deve-se tomar cuidado com as quantidades ingeridas.

“A pessoa, após a cirurgia, é capaz de comer bem, de tudo, mas sem excessos. É isso que precisa ficar claro. Ela leva uma vida normal. O objetivo da cirurgia é melhorar a qualidade de vida”, afirmou.

Indicações

A cirurgia é recomendada para aquelas pessoas cuja obesidade se torna uma doença.

"Cada paciente apresenta situações que nos faz definir por uma técnica ou outra", diz médico sobre diferentes tipos de cirurgias bariátricas

Existem conceitos mundiais que são baseados no Índice de Massa Corporal (IMC), cálculo que leva em consideração o peso e a altura.

Quando esse índice está acima de 40, essa pessoa é considerada uma obesa grave ou mórbida e é indicada para o tratamento cirúrgico. O mesmo ocorre quando esse índice está acima de 35 e a pessoa apresenta outras doenças que se associam à obesidade, sendo causadas ou agravadas por essa condição.

“Essas são as duas indicações clássicas para a cirurgia. Essas pessoas necessitam obrigatoriamente terem esgotado as possibilidades do tratamento clínico, ou seja, um tratamento multidisciplinar em que ela não obteve sucesso”, alertou o especialista.

Técnicas de gastroplastia

O especialista aponta quais são as duas principais técnicas utilizadas na cirurgia: sleeve e by-pass.

Segundo o cirurgião, a técnica de by-pass associa a redução do volume do estômago sem a retirada do órgão. Consiste na confecção de uma nova passagem do alimento entre o estômago e o intestino.

“Essa é uma técnica, do ponto de vista metabólico funcional, mais eficiente, porque funciona não apenas restringindo a quantidade de alimentos, mas também os hormônios responsáveis pelo controle da sensação de fome e saciedade. É também mais capaz de ter um controle nas doenças associadas”, pontuou.

Já a outra técnica muito utilizada, sleeve gástrico, mexe somente no estômago, porém há necessidade de uma ressecção de uma grande parte do estômago, que consiste na retirada de algo em torno de 70% do órgão.

“O estômago é um reservatório e, quanto menor o reservatório, menor a quantidade que a pessoa consegue comer”, afirmou.

Médico e o paciente precisam encontrar a melhor técnica para o corpo daquela pessoa. De acordo com o médico, é importante que as técnicas sejam indicadas e adaptadas respeitando a individualidade de cada paciente.

“Cada paciente apresenta situações que nos faz definir por uma técnica ou outra”, completou.

Fonte: Midia News